Arquitetura e Singularidades
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Vila Autódromo

PROJETOS  |  Monumento horizontal, vivo e coletivo.
Vila Autódromo | Projeto Futuro da Memória - RJ

Projeto comunitário | urbano

A Terceira Margem, em parceria com o Estúdio Guanabara que nos fez o convite para o trabalho, compôs o núcleo de espacialização do Projeto Futuro da Memória | Rio de Janeiro do Instituto Goethe, desenvolvido pela equipe Céu Aberto. Dentro de uma série de ações, o pedido destinado aos arquitetos tratava-se de uma placa, um farol, um monumento, ou qualquer coisa capaz de marcar a resistência histórica de 20 famílias da Vila Autódromo às violentas remoções promovidas pelos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Mais de 700 famílias saíram dessa comunidade localizada ao lado do Parque Olímpico, apenas para a construção de um estacionamento hoje sem uso.

A demanda do projeto foi criada a partir do método participativo das oficinas da Terceira Margem. Foi instaurado um processo de cuidado entre habitantes e arquitetos através de exercícios corporais com a finalidade de ativar o inconsciente dos participantes. Aos poucos a violência, antes vivida e ainda ativa nas memórias, foi dando lugar às conversas, intuições, reflexões como o caso da perda de todas as esquinas da comunidade. Ela hoje é restrita a uma única rua reta com 20 casas iguais que a prefeitura foi obrigada a construir. Entretanto perder as esquinas significava perder, também, as possibilidades de escolhas de direção ou os encontros inesperados, tão característico do modo de habitar da Vila Autódromo.

A série de espaços proposta pelo projeto Estandarte-Bandeira-Praça-Fachada cega da Igreja pretendeu recuperar uma dessas esquinas e ativar de modo prático essa característica de habitar que havia sido quase destruída. Modo este de cuidado e uso do espaço público, fazendo dele mesmo a principal placa ou o que viria a se tornar uma bandeira de demarcação do território. De um pedido de monumento estático, placa ou marco visual de permanência da Vila Autódromo passamos para a construção de um espaço de uso vivo, capaz de expressar a própria dinâmica de cuidado bem como a luta pública desse coletivo.  Os estandartes e as bandeiras, desenhados junto aos habitantes e ao artista Kammal João, não se dissociam da pequena praça de pedras - A sala construída hospeda conversas públicas - que, por sua vez, também é articulada com as projeções de vídeos que a fachada cega possibilitou. Fez-se, então, um outro tipo de monumento, dessa vez articulado, vivo, coletivo e horizontal, onde a permanência, resistência expressa em um conjunto de pedras, articulados a panos e reboco, se faz permeável ao futuro a partir de sua própria memória.

Ano do projeto: 2017
Local: Rio de Janeiro

Equipe Céu Aberto
Curadoria: João Paulo Quintela, Shana Prado dos Santos, Igor Vidor
Núcleo espacialização - Luisa Bogossian, André Daemon (Estúdio Guanabara), Iazana Guizzo, Natália Cidade (Terceira Margem)
Núcleo acervo: Gleyce Kelly Heitor
Núcleo produção artística: João Kammal, Guga Ferraz, Cris Ribas, Ivo Godoy, Lucas Sargentelli
Execução da obra: Olaci Corrêa e equipe

Antes da elaboração do projeto, o Terceira Margem conduziu uma oficina de sensibilização coletiva.

Etapas da metodologia envolvidas: ESCUTAR, AMPLIAR, CRIAR, CONSTRUIR